Bandas voláteis
Eu me lembro de poucas bandas que eu conheci recentemente. Parece que elas tem sido mais esquecíveis. Eu não acho que isso tenha a ver com qualidade mas, sim, com o jeito que eu as escuto.
Quando eu não tinha internet no telefone, para ouvir música fora do computador, eu tinha que baixar o álbum em uma internet com velocidade ruim e carregá-lo no tocador de MP3 ou no celular. Tinha um esforço envolvido e uma quantidade limitada de álbuns para ouvir, o que me levava a escutar os mesmos por muito tempo.
Hoje, tenho acesso a infinitos álbuns no meu celular desde que tenha sinal de Internet. Basta pesquisar o nome. Porém, quando acesso o aplicativo que uso, costumo me perder nas recomendações, não escuto muita coisa repetida e, com frequência, prefiro ouvir playlists feitas por outras pessoas com artistas variados do que álbuns propriamente ditos. Essas playlists me apresentam diversos bons artistas mas é raro que eu vá atrás de ouvir mais deles.
Em comparação, os álbuns que ouvia na época em que tinha que baixá-los marcaram períodos da minha vida. Não consigo desassociar as idas e vindas para a faculdade no meu primeiro semestre do The Melancholy Connection do Millencolin. O outono do ano em que pude fazer um tão desejado intercâmbio foi regado de Temple of Shadows do Angra. Os discos do Pink Floyd dominaram o mês em que fiquei morando na casa da minha irmã para cuidar dos cachorros dela enquanto ela viajava. Eu já os conhecia, mas ouví-los no vinil sentado no sofá, brincando com os cachorros e nada mais, fez com que estes discos grudassem na minha cabeça e nunca mais fossem embora.
Essa forma de interagir com as músicas permitiu que bandas que não me aparecem nas redes sociais permanecessem comigo até hoje. Eu gosto demais de TTNG e não preciso ser lembrado disso. Há outras bandas como a Motorpsycho que eu sinceramente nem sei onde vi o nome pela primeira vez e nunca mais vi nada sobre elas, mas minhas viagens de ônibus ouvindo-as foi suficiente para que ficassem comigo da mesma maneira.
A questão aqui não é voltar a comprar CDs ou baixar um álbum para poder ouví-lo. É ter intenção na escuta da música. Escutar um álbum completo, mais do que uma vez, fazer dessa uma atividade principal em vez de somente usar a música como plano de fundo, de barulho para preencher a cabeça.
Na era da constante super estimulação mental, nossas experiências têm sido cada vez mais efêmeras. Quero minha relação antiga com a música de volta.